O amor já era, mas o frio na barriga continua. Mais forte que o desejo de esquecer é a sensação física que volta no fim: coração a mil, adrenalina, borboletas no estômago. Para superar isso, os médicos indicam: deve-se reforçar as emoções negativas ligadas à pessoa e mudar o foco. É, arrumar outro amor.
"Do ponto de vista cerebral, ficar só não ajuda a superar [o fim do caso]", diz o neurologista Antoine Bechara, da Universidade de Iowa (EUA). Parte da dificuldade, segundo Bechara, é que essa situação gera um conflito cerebral. Mesmo que o amor já tenha ido para o brejo e que as lembranças negativas estejam presentes, há uma impressão - nada a ver com as memórias guardadas no cérebro - que dispara aquelas reações corporais lá do alto.
Ele explica que no circuito neural há dois sistemas. Um deles passa pela amígdala, é responsável por respostas corporais involuntárias, como bolhinhas no estômago. O outro sistema passa pelo córtex pré-frontal, região que traz à tona as lembranças do ex, mesmo que a pessoa não faça mais parte da sua vida.
"Seu amor pode ter azedado, mas o cérebro continua a mandar os estímulos [que causam reações físicas] ainda que ele tenha as lembranças ruins do relacionamento. As impressões formadas no namoro ficam no cérebro."
As próprias reações físicas também podem ser interpretadas como uma forma de sentimento, o que realimenta o circuito. "A reação seria suficiente para configurar um sentimento? Não é necessário o objeto daquele sentimento estar presente?". As impressões residuais e essas reações físicas "sequestram" os pensamentos.
Não precisam da nossa intenção para aparecer, o que dificulta a mudança de foco. Mesmo quando não se está pensando na pessoa de propósito, o sentimento volta e toma o corpo de assalto.
Por isso também é que o tempo pode não dar conta do recado, ao menos do ponto de vista neurológico. "Não apaga. Esse sentimento é próximo ao dos vícios", diz.
Se o ex está por perto, então, é pior. Como para o alcoólatra, basta um deslize para que aconteça a recaída. O neurologista André Palmini, da PUC-RS, lembra que essas reações são similares às do começo do amor. "É sinal de que há uma ameaça." As borboletas no estômago fazem uma curva durante o namoro, diz Palmini: surgem no início, declinam no meio e voltam no final.
EMPATIA É SINAL DE UNIÃO DURADOURA
A capacidade de entrar em sintonia com os desejos do parceiro é a marca do amor duradouro. No cérebro de quem está apaixonado, ocorre a ativação do sistema de recompensa. Esse sistema é mais "primitivo": leva o ser humano a buscar comida, proteção e sexo. Quando o sentimento evolui, regiões mais refinadas são acionadas. São áreas menos relacionadas a emoções básicas e mais ligadas à empatia.
Texto escrito por DÉBORA MISMETTI publicado na Folha.com